Ritual dos dias

Escorrem-lhe dos lábios palavras em fio como colares de pérolas ou flores ou saliva ou sangue apenas e tecem-se nelas o espanto e a angústia de se saber a dizer o que não quer que lhe saia da alma aprisionada entre os dedos. Nem a morte o quer assim com visões do indizível colorido que teima em sonhar para além da dor dos dias. Sobra-lhe a pele em cima do frio, os gestos que os ossos permitem por abandono de vontade e o riso sarcástico da solidão que respira por entre sapatos apressados a caminho da indiferença. Como sempre hoje há apenas esmolas sem ouvidos.

2 comentários:

919 disse...

É verdade, Lia, o que o Carlos diz, mas, mais que uma impressão, eu diria uma quase certeza... Se não te dás conta da beleza (em todos os seus aspectos) do que escreves, é porque ela e tu, tu e ela, SÃO. (Nós já estamos carecas de saber que nunca, nem no espelho, nos veremos como os outros nos vêem)

Joaquim Amândio Santos disse...

ouso erguer minhas retinas encantadas para a dança enebriada entre as palavras e o mundo que brota da alma!
saudações à irmandade que come languidamente nesta mesa de estórias...