Esta cidade, chamada Igualdade, chamada Utopia


I

Ergue-se a tua voz, cidade.

Diz-me que a verdade não está na terra do nunca.

Pulsas por cá, sem que o teu betão seja surdo, somente cimento, pálido no seu cinzento,

Não sendo tormento sem lugar à humanidade!

Nesta cidade

Estou, sem querer uma estada sem Ti, na ausência de todos.

Assim se construirá a nossa luta pela partilha, tecida nas malhas do consenso,

sem voltar nunca as costas ao desafio da fragilidade.

O lugar a todos torna-te cidade lar de cada um.


II

E se te consome o frio, quando assola, seja meu o cobertor do teu aconchego.

E se obedece à míngua o pão teu, que essa seja saciada pela metade do que levo à boca,

quase sempre em demasia.

E à falta de trabalho para Ti, que eu te abra uma porta, sem medo cego de que o teu sopro de felicidade seja vento gélido para o meu sucesso

E que a dita tua deficiência seja razão para o profundo carinho da minha devoção.

Que as chagas da tua doença mirrem sob os auspícios do mais terno cuidado.

E que nesta cidade, venha o dia, nos dias todos,

Em que a tua mão estendida assim seja para apertar a minha,

nunca como súplica da vida que te foge!


III

Nesta cidade ergue-se ufana a vontade do arco-íris.

Pulsam, sem mácula, todos os tons, todas as nunces que o preenchem.

Nesta cidade é grande a vontade de jamais submergir ao triste domínio do preto e do branco.

Sem negritude mortal, numa ausência da palidez cínica, construímos um ninho sem fim.

E quando minha língua não entender a tua,

Erguemos o nosso entendimento na universalidade de um sorriso.


IV

Esta cidade chamada igualdade,

Nunca responderá ao chamamento da exclusão!




Ermesinde, 23 de Outubro de 2007

TEXTO OFICIAL DO ARRANQUE DO "ROAD SHOW" IGUALDADE PARA TODOS,

PROMOVIDO PELA UNIÃO EUROPEIA

©2007, joaquim amândio santos e negratinta editorial


photo by

©2007 PEDRO MOREIRA


"Nesta vida – é um facto – estamos sempre a desaprender coisas novas. O mundo vai guardando a luz nas suas bainhas negras e temos a melindrosa companhia dos fantasmas que nos procuraram: eles governam rudemente os nossos pequenos reinos e há um ceptro novo para cada coroação. De repente, com a volta das estações, damos por nós muito mais velhos nas fotografias. As razões que nos assistiam empalidecem em paisagens cruelmente coagidas pela luz. Fomos expulsos dos grandes palácios da alegria? Onde estão os mapas que nos guiavam lá dentro, exactos como o instinto? Não sabemos responder: o caminho turva-se: são as incertezas da maturidade. As palavras não nos iluminam e o amor está condenado aos defeitos naturais do coração, que ainda assim há-de voltar a arder sem defesa nem socorro uma vez mais."





















Quando amanhece penso:
Encontro-te no vento
virás abraçar-me como os ramos da árvore
e chegaremos ao coração da cidade

Ao meio-dia sei:
A distância do meu corpo ao teu grito
corresponde à do teu sopro ao meu ouvido
-eis a anatomia do silêncio

De tarde fico exausta:
Circulo pelas ruas e roço-me nas praças

À noite adormecemos:
Será que te lembras?
será que me lembro?

Amanhã alegro-me de novo:
Imagino a floresta, parto o espelho
e recomeço a ir ao teu encontro.

Teresa Balté