Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exacto
e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frémito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale subtilmente, no ar,
a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir como sinto
- em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Mario Quintana

5 comentários:

Janelas da Alma disse...

Olá Mia,

O texto é maravilhoso, e demonstra uma sensibilidade notável. A composição da imagem, que tu tão bem enquadraste, torna o texto ainda mais intenso, mas uma intensidade suave, precisa.
Muito bonito, o conjunto!
Um beijo,

Nuno Osvaldo

Titá disse...

Uma ode à mulher, à sensibilidade. Adorei. Parabéns
Beijo

Joaquim Amândio Santos disse...

vês os meus olhos?!

quando cintilam
anunciam o nascimento do teu reino.
o tempo
onde pulso,
o caminho
onde me percorres
em cada olhar lânguido.

Ana P. disse...

Ai, a saudade, que arrebata o meu coração quando chamado á tua presença. E quando me pareces não és, e o teu ser presença já passou quando abro meus olhos.
Beijo

P. F. disse...

Lindo... lindo!
saudade - teimo em fugir dela!
Ao ler o texto, descobri-lhe um novo significado.