Crónica de uma Cidadã Comum (primeira)

Caros Vizinhos,
Apresento-me, Crónica de uma Cidadã Comum, doravante vossa amiga CCC.

Venho relatar-vos a minha última viagem.
Queiram aceitar uma boleia ao longo de 700 quilómetros de actos falhados entre uma cidade portuguesa e a Serra da Estrela.

Data: ontem, 5 de Março de 2006
Programa: despertar às 05h30 (sem comentários), vestir roupa de inverno e tomar pequeno-almoço (iogurte de tutti fruti com dois bonbons lá dentro).
Ponto de Encontro: na garagem (a minha é o 21 e a vossa?).
Hora de saída: 06h55 (cumprir 5 minutos antes das 7 escrupulosamente).
Até aqui, a parte feliz da minha manhã.

Primeira escala: área de serviço de uma auto-estrada portuguesa (irrevelável, claro).
A fila das senhoras para a casa de banho transbordava a porta principal da cafetaria, esperei meia hora para poder entrar, aí chegada: não havia papel, mal havia água, não havia sabão, não havia secador das mãos, havia um anúncio na porta “se gostas de sexo, liga-me, sou camionista” e houve a simpatia de uma senhora que distribuiu lenços de papel.

Quando cheguei ao bar, não havia pão, não havia croissants, só havia garrafas de água de litro (eu prefiro as pequenas), não havia guardanapos (e a senhora dos lenços de papel já tinha saído).

Tolerância Zero:
Seguíamos na faixa de rodagem da direita, quando avistamos umas placas amarelas (tortas) a indicar desvio à direita.
Como nenhum dos destinos mencionados nos interessava, continuamos em frente.
Continuamos nós e outras viaturas, concretamente autocarros de turismo guiados por condutores profissionais.
Isto tudo para vos dizer da maior gravidade a que assisti numa estrada portuguesa: entramos todos em contra mão!
Não havia linha (dupla) contínua, não havia pinocos ou qualquer obstáculo à nossa passagem, e (deus existiu ontem) não havia veículos de frente (pelo menos naquele momento).

Chegados a um ponto de alargamento da via, interrompemos a marcha dos veículos em sentido correcto, fizemos inversão de marcha, passamos ao lado do local do crime, não havia ângulo possível de manobra para aceitar as indicações amarelas e fizemos o percurso inverso até à saída anterior, gerando um atraso irremediável.

Aventura na Serra:
Subida à torre antes de almoço: proibida pelos agentes da GNR (nunca estão onde são precisos).
Subida à torre depois de almoço: impossível.
Dado o cansaço, a frustração e o vinho do almoço, decidimos fazer uma sesta.
Mal estacionamos, chegaram os tocadores de tambores (é assim que se chama?).

Enquanto eles fizeram barulho, um homem caiu no meio da neve.
Alguém que estava perto desse homem, veio o mais rapidamente que pôde chamar ajuda.
Passado um quarto de hora chegou a GNR.
O homem continuava imóvel. Uma pessoa humana, se é que me faço entender.
Os agentes entraram na neve e só trouxeram o indivíduo para terra firme passado meia hora. Ou seja, o homem estava inconsciente há três quartos de hora.
Nisto, chegou uma ambulância (os vossos aplausos por favor) e socorreram-no.

Durante o tempo em que os agentes se ausentaram para resgatar o ferido, um magnífico cão polícia da raça “pastor alemão” ficou inadvertidamente livre no meio das pessoas de todos os tamanhos e dos carros em constantes manobras de desempanagem.
E as crianças tiveram medo.

Regresso a casa.
Última escala: área de serviço de algures.
A cafetaria tinha uma enorme prateleira coberta de revistas cor-de-rosa.
Não havia um único jornal (o 24 horas excluído naturalmente)

Moral da história:
A neve, meus amigos. A neve estava lá. Absurda. Nua. Majestosa. E a água. A água corria sempre. Livre. Rápida. A cair sobre a neve. A violar o gelo. E não há nada mais pornográfico do que a natureza. E tudo isto existe. Tudo isto é fixe. Tudo isto é DADO. Para todas as idades. Numa serra perto de si.

(todos os factos foram devidamente documentados)

A Vossa CCC

2 comentários:

Alisson da Hora disse...

Bem, a neve só apareceu uma vez na minha vida: em 1998, em Viena...e ela estava lá, branca,nua, virgem (?????)para um pobre brasileiro como eu devorá-la como quando se devora tudo pela primeira vez...

Mia disse...

tiveste sorte em conseguir vislumbrar a neve, além das pessoas, dos carros, dos trenós!!!!