Como tu Queiras

Como queiras, Amor, como tu queiras.

Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranqüilo.
A tudo quanto espero e quanto temo, entregue a ti,

Amor, eu me dedico.
Nada há que eu não conheça, que eu não saiba
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.
As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos

de mal contente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.


De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárnio, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Será mais duro que morrer, talvez.
Apenas como queiras ficaremos vivos.
Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, Amor, como tu queiras.


Jorge de Sena


3 comentários:

João disse...

Como tu queiras, amor

João disse...

Olá querida amiga

fotArte disse...

Passei aqui por acaso, mas gostei. Muito lindo. Ate a proxima e Felicidades