shuu..

Dá-me a tua mão:
Vou -te agora contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir- nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector

1 comentários:

Anónimo disse...

Lispector: esta é a minha preferida.

Este trecho de "A Paixão segundo G.H." me chama muito atenção, pois lembra-me de um momento diferente, especial da minha vida. Na época da faculdade, há uns sete anos, eu quis entrar para um grupo de teatro local. E escolhi este trecho, e mais um outro ápico da Paixão clariceana - na verdade eu estava vivendo este texto, vivenciando na pele a "Paixão" dela - escolhi para um texto monólogo. Passei no teste. Foi tão bom. Nesta época apresentei para público dois monólogos, sendo que um foi de texto de autoria própria. É gostoso. Mas, por razões outras, abandonei o teatro. É uma pena. Como amei o teatro, nesta curtíssima temporada da vida.

Obrigada pela sua visita. Suas palavras têm a graça do sensível e a delicadeza do leve. Volte.


Bjs.

Ana