certas manhãs...





Certas manhãs chegava
esmagado pela luz
longo, frívolo, ofensivo
qualquer gesto aludia
a uma espécie de temor
a tristeza daqueles que pertencem
a lugar nenhum

Vivia tudo num instante
a solidão, os rancores
as alegrias dos outros
o silêncio do outono

Nunca o amor tocara o seu corpo
com a intensidade do medo
tornou-se parte de um rio
nem perto, nem longe
da palavra justa

Ele só pedia
"não me digam nada"

José Tolentino Mendonça

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