Estava a porta entreaberta, não bati sequer. Sempre me espanta encontrar-te tão assim de visita, na tua própria casa, em ti. Era difícil tocar-te, mexer-te. Na parede branca oscilam os ramos, as sombras de ramos da alameda. Era mais fácil beijar-te, por falta de palavras. Tão profundo é o silêncio, que se ouvem todos os rumores, o ladrar de um cão, o silvo de uma fisga, a pancada dos ramos no entardecer, lembrando um sino submarino. Pensava que amar-te (querer-te livre) começava na ponta dos dedos e ia até às ideias mais abstractas, que o teu corpo era a melhor expressão possível de ti, e ainda muda, como um hieróglifo enterrado na areia do teu deserto favorito (algures na anatólia), pensava que serias um dia aquela singular memória que nos separa, um breve instante, de tudo quanto vemos, e muitas outras noites, acordado junto ao teu corpo ausente...
António Franco Alexandre

1 comentários:

Unknown disse...

António Franco Alexandre um nome a procurar no google um escritor a convidar para membro da lista "Amantedasleituras".

http:blogdalista.blogspot.com