Da Decadência Póstuma: Arquivos séc. XX.

por António Aleixo

Sou humilde, sou modesto;
Mas, entre gente ilustrada,
Talvez me digam que eu presto,
Porque não presto p’ra nada.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.

Tu não tens valor nenhum,
Andas debaixo dos pés,
Até que apareça algum
Doutor que diga quem és.

À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.


Depois de tanta desordem,
Depois de tam dura prova,
Deve vir a nova ordem,
Se vier a ordem nova.

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

Vemos gente bem vestida,
No aspecto desassombrada;
São tudo ilusões da vida,
Tudo é miséria dourada.

TUDO É MISÉRIA DOURADA!

3 comentários:

Mac Adame disse...

É humilde, é modesto, mas é dos nossos maiores poetas! Essa é que é essa.

Prof. José Fernando disse...

Perdoem-me a ignorância (são tantas em relação a Portugal!). Não conhecia. Perfeito, em simplicidade e mensagem. O hábito não faz o monge, isto é fato. Mas quanto monges falson encontramos por todo lado!

Muito belo!

Prof. José Fernando disse...

quantos e não quanto. Cinzas no teclado!

falsos (tirem o "n" por favor!)