Aqui. Hoje.

Já somos o esquecimento que seremos.
A poeira elementar que nos ignora
e que foi o ruivo Adão e que é agora
todos os homens e que não veremos.
Já somos na tumba as duas datas
do princípio e do término, o esquife,
a obscena corrupção e a mortalha,
os ritos da morte e as elegias.
Não sou o insensato que se aferra
ao mágico sonido do teu nome:
pensam com esperança naquele homem
que não saberá que fui sobre a Terra.
Em baixo do indiferente azul do céu
esta meditação é um consolo.


Jorge Luis Borges (Tradução: Charles Kiefer)

3 comentários:

iNuno disse...

Mas aí está, os actos, a subsistirem, fazem-no apenas na nossa cabeça, onde já somos o esquecimento que seremos... o que perdura não são os actos em si, mas o que se escreve sobre eles e a interpretação que se faz sobre o que se escreve. E quanto, como sabemos, não se perde nas traduções?

A memória, mais uma vez.
E o estar vivo, sim. Um consolo decadente.

(nem vou ler o que escrevi)

iNuno disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
iNuno disse...
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