Andavam pela casa amando-se no chão e contra as paredes. Respiravam exaustos como se tivessem nascido da terra,de dentro das sementeiras. Beijavam-se magoados até se magoarem mais. Um no outro eram prisioneiros um do outro e livres libertavam-se para a vida e para o amor.Vivendo a própria morte voltavam a andar pela casa amando-se no chão e contra as paredes. Então era música, como se cada corpo atravessasse o outro corpo e recebesse dele nova presença, agora serena e mais pobre mas avidamente rica por essa pobreza. A nudez corria-lhes pelas mãos e chegava aonde tudo é branco e firme. Aquele fogo de carne era a carne do amor,era o fogo do amor,o fogo de arder amando-se e por toda a casa,contra as paredes,no chão. Se mais não pressentissem bastaria aquela linguagem de falar tocando-se como dormem as aves. E os olhos gastos por amor de olhar,por olhar o amor.E no chão contra as paredes se amaram e pela casa andavam como se dentro das sementeiras respirassem. Prisioneiros libertados, um no outro eram livres e para a vida e para o amor se beijaram magoando-se mais, até ficarem magoados.E uma presença rica,agora nova e mais serena,avidamente recebeu a música que atravessou de um corpo a outro corpo chegando às mãos onde toda a nudez é branca e firme. Com uma carne de fogo,incarnando o amor,incarnando o fogo,contra o chão das paredes se amaram pressentindo que andando pela casa bastaria tocarem-se para ficarem dormindo como acordam as aves.
Joaquim Pessoa

2 comentários:

Anónimo disse...

optimo

Mar Arável disse...

Excelente