"no princípio era...

não dormia sem o escuro absoluto, doíam-lhe os olhos de ter visto cidades, de ter esquecido gente, do frio do vidro nas palavras. Demorava tanto a entender o mundo que agora não dormia de muita luz que as coisas tinham antes sequer de serem suas. Trabalhava-se tanto nesse lugar onde vivia com outros como ela, que às vezes pensava: tão estranho nascer (quer dizer, nascer mesmo, estar aqui) para o dia passado com estranhos. E por isso, no princípio, não dormia sem procurar o amor, sem beijar na testa a noite que acabava serena e exausta como a noite.

No princípio era. Depois esvaziou-se com cuidado."

2 comentários:

Madalena disse...

Caramba, que coisa bem escrita e como eu penso entender isto!

:)

Obrigada.

Joaquim Amândio Santos disse...

brotam frutos abençoados pela ousadia divina...