Esta noite todos os quartos estão frios.
Entra pelas janelas a verdadeira imobilidade das árvores.
Em volta, nas paredes escurecidas, a infância mais antiga.
Um homem dissipa-se subitamente contra o luar.
Esse é o gesto que faz morrer os campos.
É o mesmo gesto que levanta um amor mútuo,
uma tontura de corpos atirados para uma
morada extrema.
Aqui se conhece o elo que une a terra
e as mãos e o sonho animal.
Porque o círculo das vozes é uma gravidez poderosa.

E há sempre vozes no interior das paredes,
subindo das fundações,
inchando toda a casa.

Em cada quarto um ser procura a presença do seu próprio rosto.


Vasco Gato

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