Olha-se ao espelho que já não o reflecte,
tudo, menos ele, aparece na fria superfície,
o quarto, móveis e quadros, a variável luz do dia.
Assim aprende, com terror silencioso, a ver-se
não nos gestos teatrais - ainda traços humanos - da morte,
mas nos dias de depois, no vazio do nada.
Inútil fechar os olhos, estúpido quebrar o espelho obstinado,
procurar outro mais fiel ou mais amável.
É ele só, o homem invisível, o que desaparece,
é só ele, um rasto apagado,
que não contempla ninguém, porque é ninguém,
o nada no vidro indiferente da vida.


Juan Luis Panero




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