o sono duma ausência
como uma faca aberta
sobre os ombros
a qual a carne adere
impaciente
cicatrizando já durante o sono
E há também
o estar impaciente
calarmos impacientes
todo o corpo
Sorrir não devagar
claramente
lugares inventados sobre
os olhos
E há ainda em nós
o estar presente
diariamente calmas
e seguras
mulheres demasiado
serenamente
nas casas
nas camas
e nas ruas
E como toda esta herança
não chegasse
como se ainda quiséssemos aumentá-la
fechamos os braços de cansaço
como se da vida
chegasse o inventá-la
E se do sono
nos vem o esquecimento
quantas insónias
cansamos por de dentro
Maria Teresa Horta
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