Talvez não saibas por onde se pode passar para o outro lado; não pela ponte , que está fechada para quem apenas leva a imaginação: mas por um caminho que junta quem olha, de ambos os lados, as nuvens de chuva que o mar empurra para terra.
É um caminho com as cores de um arco-íris. As suas pedras fazem doer a alma, mais do que os pés; e se um de nós pega numa dessas pedras para a meter no bolso, ela desfaz-se, como se fosse areia.
Encontramo-nos a meio da travessia, num lugar em que olhamos para os dois lados de onde cada um de nós partiu. E os dois lados são iguais, com as mesmas árvores e as mesmas casas. Mas falas-me de uma sensação de distância que, apesar de estarmos juntos, trazemos connosco.
Também os caules crescem sem nunca se encontrarem; e se o ventos os empurra, cada um segue uma direcção diversa. por isso, não nos vemos, neste fim de tarde, nem ouvimos o que temos para nos dizer.
Para quê, então, atravessar as pontes abstractas que nos levam uns em direcção aos outros? Que distâncias se podem evitar quando julgamos que os seres coincidem no instante de um olhar?
Nuno Júdice
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