Meus olhos não fabricam a realidade ou tu. Meus olhos não fabricam mas encontram. Silêncio no teu olhar, na tua boca. Em tua língua primitiva o mar se olha. É o deserto e falas, boca brusca de ignorado alento.

Não te construo, constróis-me, construo-te. Construo-te, mar. Aqui onde o sol se acende em carne,onde a casa é um nome de mar,e os frutos e os espelhos amadurecem o corpo solidário. Aqui tu és lenta verdade no sossego do sangue: circulação de nomes e de peixes.

Esta ciência de inocência e água se toco, delicado, ou pão ou página,ou corpo, ou fruto, ou verde folha, este pisar que é duro e leve, a frescura e a sombra, o ar, a luz.Tudo me dás.Tudo te dou. Tudo nos damos.

E a terra mais próxima e as ervas e os bichos translúcidos entre pedras, a serena eclosão dos nomes, cabeleira sobre o corpo fresco, intenso e nu. Verdade ainda mais próxima dos tranquilos campos. Paz que se alonga às searas por um corpo amado, renhidamente amado entre a verdura na noite de estrelas claras e estáticas.

Sobrio
o teu corpo me pede penetração, nomes puros: os de boca, braços, mãos sobre a terra e sobre os muros.
Sobrio
o teu corpo me pede nomes justos, nomes duros: os da terra, fogo e punhos, claros, acres, escuros.

António Ramos Rosa

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