Ficávamos no quarto até anoitecer,
ao conseguirmos situar
num mesmo poema o coração e a pele
quase podíamos erguer entre eles uma parede
e abrir depois caminho à água.
Quem pelo seu sorriso então se aventurasse
achar-se-iade súbito em profundas minas,
a memória das suas mais longínquas galerias
extrai aquilo de que é feito o coração.
Ficávamos no quarto,
onde por vezes o mar vinha irromper.
É sem dúvida em dias de maior paixão
que pelo coração se chega à pele.
Não há então entre eles nenhum desnível.
Luís Miguel Nava
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