Falámos, melancólicos, às três da madrugada, tristes, não demasiado bêbedos, naquele ruidoso bar para noctívagos. Curiosamente, insistimos no tema da morte, e recordou-me outras conversas, outro tempo, embora neste momento, fosse uma morte próxima - muito pouco literária -sórdida e tangível como as manchas da toalha. Na porta ao sair ficámos sérios, sabíamos que de novo nos separávamos e fingimos esquecê-lo com uma expressão banal. Hoje, não sei porquê, voltam essas imagens e gostaria de reviver aquela noite, nem melhor nem pior, o que foi, simplesmente. Reter por um momento, só por um momento, a humidade dos teus olhos, o rito do teu sorriso ,o que me chega como uma pintura desbotada, ou como, ao despedir-nos, as gotas de chuva no vidro do carro, a desenharem um caminho, a resvalarem, a apagarem-se.



Juan Luis Panero

1 comentários:

Jay Dee disse...

Triste. mas lindo.