Pode não ler. Pode, se quiser, fechar os olhos, dormir. Ou só olhar em volta. O quê, quem: os outros condenados. Irmãos em sorte e miséria.
Tenha tanta pena deles como a que eles mesmos estão a ter, deles e de si, neste momento.
Rui Caeiro
O silêncio e a sua costura,
a agulha nocturna que tudo
concilia: a carne cospe
nervos da cabeça ao túmulo frio
em que se fecharão soberanas
as margens da impaciência:
cicatriz sensível aos dedos,
mão alheia que agora
se inquieta.
Vasco Gato
Tudo é inimitável:
a cabeça quase em pudor reclinada
sobre o desalento
de um inverno distante,
os cabelos abertos na incerta
direcção dos ombros,
o pescoço igual a um fragmento de coluna
( é sempre tão longo caminho um fragmento).
as mãos incólumes que tornam
misterioso o fogo
José Tolentino Mendonça
A sul de nenhum norte...
Disse-to pelas nuvens
Disse-to pela árvore do mar
Por cada onda pelos pássaros nas folhas
Pelos calhaus do ruído
Pelas mãos familiares
Pelos olhos que se volvem rosto ou paisagem
E o sono dá-lhe o céu da sua cor
Por toda a água da noite
Pelas linhas das estradas
Pela janela aberta por uma fronte descoberta
Disse-to pelos teus pensamentos pelas tuas palavras
Toda a carícia toda a confiança sobrevivem.
Paul Eluard
Subscrever:
Mensagens (Atom)