Nas águas frígidas e plácidas,
em que o nosso amplexo é vigilância extinta,
eu busco ter-te, amor, mas contemplar-te
é recordar ambíguo de antes de abraçar-te,
e, tendo-te, não tenho, porque quero ter-te.

Dessas águas bebi; demais à beira delas
vi reflectidas luzes de janelas
que a noite e o amor apagam, uma a uma.

Simples te falo de uma noite imensa.


Jorge de Sena

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