Vejo-te um pouco como se já não houvesse 
uma casa para nós. 
As grandes perguntas estão aí por todo o lado, 
onde quer que se respire, dentro
dos próprios frutos. É o começo da noite e os cinzeiros 
já estão cheios de meias palavras:
porque escolhemos tão pouco aquilo que nos pertence?
Vejo-te de olhos fechados enquanto me confiavas
a tua história – à mesa da cozinha, quase um espelho,
quase uma razão. As minhas canções preferidas
pareciam convergir para ti a certa altura, dir-se-ia
que te vestias com elas. E no entanto
como se apressaram as grandes florestas a invadir
as gavetas, como misturaram as raízes
no eco que fazia o teu desejo contra mim.

Rui Pires Cabral











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