da ausência



De veres o meu lugar.
De me veres só apagando a luz do quarto
cada noite no escuro a respirar como um clarão.
De me veres do lado exterior.
Muro, fenda no muro e sem força para esperar.

De te hospedares em mim.
De descobrires a posição da árvore fixa no crescimento
da árvore que agora sou circulando com dificuldade
do fruto cortado para ocupar as mãos.
De o veres empunhado como arma para afastar o medo.

De veres a casa.
De estares à minha beira e no quarto ao lado
vazio, no vazio búzio
de ocupares o vazio para o libertar.
De veres a pedra branca dos meus olhos
seixo dos rins
pedra polida de tanto rebentar
primavera de si mesma.
De anunciares em silêncio
o nada que salva a minha mão perdida
remo à superfície teimando contra
o peso da âncora de fechar os olhos
e inclinar o corpo afogado.
De perdoares.

Por ter-me apagado tão longe de te ser luz
de te ser lâmpada horas e horas

à noite e no Inverno.
(...)
Estou por terra e vejo já do alto com a saliva
a saber-me ao bolor do chão.
De estar sentado e inútil - como se tudo à minha volta me cegasse -
Apodrecendo a cadeira um odor da terra - como a tempestade -
Cansado, cansado.
Sem força para ver a tua face.


Daniel Faria

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