é tão difícil sentar-se sozinho. sentar-se ali sozinho. a estrada a encher-lhe o olhar. estendida como uma vida sobre outras vidas. rompendo tempos. abrindo o passado, abrindo o futuro. a estrada nua de um lado, nua do outro. indecisa e implacável. implorando para ser atravessada. parecendo que implora. como se o presente pudesse existir neste lado e naquele lado e não se soubesse que lado escolher. e ele ali sentado. aparentemente sozinho.(...)
e ele sabe que nunca se poderá sentar ali sozinho. em nenhum lugar, em nenhuma dimensão se poderá sentar sozinho. porque no perímetro de quem respira… porque o leito por onde corre a respiração de alguém, é que é o chão mais profundo de um ser. é o lugar indizível do seu próprio divino. um espaço que só a água do sonho consegue ocupar. fundo, muito fundo, tão fundo como a eternidade. e é aí que evoluem todos os seres do seu ser, desamarrados do tempo, soltos, demorados como demora o rasto do último beijo no coração de quem ainda perde o que um dia a estrada levou.
Gil T.Sousa
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