um minuto...

Dizia-te do minuto certo. Do minuto certo do amor. Dizia-te que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas em mim. Que me pensavas por dentro. Que era eu a tua fantasia, o teu banco de trás. O teu desconforto de calças caídas, de pernas caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se fecha para o amor. Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. Mas eu nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas que não conheço. Eu nunca abri as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. Eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu nunca quis de ti uma continuidade. Mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.
Queria de ti um minuto.
Um minuto.

Filipa Leal

2 comentários:

Moon_T disse...

um minuto pode ser a eternidade
ou condensar a eternidade num minuto.
mesmo quando o que se pede parece pouco, pode ser tudo, para nós, para ti.
eu tambem, quero tudo num minuto, um minuto de tudo.
aos meus olhos, quero um minuto dela, mas que nao seja roubado, mas sim oferecido. um minuto vouluntario... "Ter" realmente um minuto.





excelente texto
obrigado

ivone disse...

belo texto sim senhora
ó pa mim aplaudindo de pé na 1ª fila:
clap clap clap clap clap