Ainda não é tarde, dizem os amigos
aos quarenta anos. Amam as canções
e as cidades estranhas que o desejo
guarda: a pressa de Junho nas escadas
do metro e essa livraria à beira do rio -
só a descobrimos no último dia, a pena
que foi. 

No fim da estação regressam
iguais com histórias diferentes, gratos
souvenirs. Ainda não é tarde, nada
está perdido ( e ninguém lhes dá
a idade que têm). 

Aos quarenta anos não sabem dizer o que aconteceu,
mas quando se juntam à roda da mesa
na vaga euforia que a hora consente,
já quase acreditam que podem voltar
à pequena praça, à luz entrevista de um
quarto de hotel, onde a noite é nova
e toda a beleza se há-de cumprir.


Rui Pires Cabral


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